Duas investigadoras da Universidade de Aveiro (UA) contribuíram para a descoberta de
que as borras de café, quando adicionadas a argamassas de reboco usadas na construção civil, promovem uma enorme melhoria na eficiência energética dos edifícios.
É dos que não passa sem um ou dois ou mais cafés durante o dia? Só em Portugal são
consumidas diariamente mais de 34 toneladas de café. Se a cafeína extraída dos grãos
e diluída na água quente lhe dá a energia de cada dia, o que dão as 34 toneladas
diárias de borras de café que ficam nas máquinas? Lixo!
A pensar nisso, duas investigadoras da Universidade de Aveiro (UA) contribuíram para a descoberta de que as borras de café, quando adicionadas a argamassas de reboco usadas na construção civil, promovem uma enorme melhoria na eficiência energética dos
edifícios.
Publicada na revista Construction and Building Materials, a descoberta potencia a
utilização das borras de café como matéria prima que de outra forma vai parar a
aterros sanitários, uma prática com enormes custos ambientais e económicos, e, ao
mesmo tempo, diminui a necessidade do consumo de matérias primas virgens usadas
até agora nas argamassas de reboco.
“Por todo o mundo, só em 2021 o consumo de bebidas à base de café foi de cerca de
9.978 milhões de quilos”, sublinha Paula Seabra, investigadora do CICECO - Instituto
de Materiais de Aveiro, uma das unidades de investigação da UA que, a par de
Marinélia Capela, também do CICECO, assina o trabalho. O trabalho contou também
com a participação de investigadores da Universidade de Palermo (Itália) e do
Instituto de Nanotecnologia de Lecce (Itália).
Dada a enorme quantidade de borras de café que anualmente vão parar às lixeiras do
planeta, “este artigo mostra uma possível alternativa de reutilização de resíduos de
café moído em novos materiais de construção verdes destinados a aplicações de
termo-reboco na construção, num contexto de economia circular”, diz a investigadora.
Olhando para a Europa, onde cerca de 75 por cento das construções não são
energeticamente eficientes – “prevê-se que a maior parte das mesmas, em 2050, ainda
estarão a ser usadas” – e numa perspetiva de reabilitação dos mesmos, os
investigadores concluíram que se as atuais argamassas de reboco forem constituídas
por 10 por cento de borras de café, substituindo estas o material agregado usualmente
areia, estas “promovem uma diminuição da sua condutividade térmica de cerca de 47
por cento, logo podem contribuir para melhorar a eficiência energética dos edifícios”
Para além das argamassas, as investigadoras estão já a estudar a utilização das borras
de café no desenvolvimento de materiais de construção com outros ligantes (e.g.
cimento, geopolímeros), com baixa condutividade térmica.
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